A leitura dos rótulos é uma das maneiras mais eficazes de se saber mais sobre um alimento, nos ajudando no momento da compra e na adoção de uma dieta mais saudável e sustentável.

No entanto, nem sempre é fácil compreender as informações estampadas em um produto, o que prejudica a criação do hábito de ler rótulos. Pesquisas do Akatu, que traçam o panorama do consumo consciente no Brasil, indicam que houve um recuo considerável no hábito de leitura de rótulos por parte dos consumidores: de 69%, em 2012, para 53%, em 2018.

O desafio de se entender o que está dito nos rótulos acontece, entre outros fatores, por conta dos padrões permissivos de como as informações de um produto podem ser comunicadas pelos fabricantes e pela presença de afirmações deliberadamente produzidas para influenciar os consumidores. Quem nunca se deparou com tabelas nutricionais de difícil compreensão ou termos como “da fazenda” ou “caseiro”, que na verdade não ajudam a escolher alimentos mais saudáveis e sustentáveis?

Além de levar a interpretações equivocadas, a falta de entendimento dos rótulos pode resultar no aumento do consumo de substâncias indesejadas, seja por questões de saúde, seja por opção alimentar.
Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), apenas 25,1% dos brasileiros era capaz de compreender totalmente o que está contido nos rótulos em 2016. Isso indica que a rotulagem atual não tem cumprido seu papel de transmitir informações claras e compreensíveis para que nós, consumidores, façamos escolhas de modo mais consciente.

No intuito de melhorar a rotulagem e sua compreensão, a Anvisa abriu, em 2019, um processo de consulta pública sobre novas regras de rotulagem nutricional. Organizações credenciadas na defesa do consumidor e no incentivo a uma alimentação saudável defenderam a adoção do modelo de triângulos, em que alguns produtos teriam de estampar características específicas na parte da frente de suas embalagens como alertas. Por exemplo: “alto em açúcar” ou “alto em gorduras saturadas”.

Mas a proposta eleita é baseada em um modelo de lupa, comprovadamente menos eficiente, de acordo com pesquisas disponíveis até o momento, e que foi modificada com relação ao apresentado inicialmente no período da consulta. Mesmo assim, houve avanços. Em especial sobre novas regras para as tabelas nutricionais, como design, tamanho, tipo e cor da fonte padronizados. Estima-se que a nova norma entre em vigor em outubro de 2022 e os produtos que se encontrarem no mercado na data terão ainda um prazo de adequação de 12 meses.

COMO COMEÇAR

Busque compreender ao máximo as informações dos rótulos: consequentemente, você estará conhecendo melhor o produto que vai consumir. A Anvisa estabelece as informações que devem constar no rótulo: lista de ingredientes, origem, prazo de validade, lote, conteúdo líquido e informações nutricionais — saiba que a lista de ingredientes é descrita de forma decrescente, de modo que o primeiro ingrediente está presente no produto em maior quantidade. Ao analisar e compreender todas essas informações, você escolhe melhor os produtos que consome, evita o desperdício ao se atentar ao prazo de validade, e tem conhecimento do que realmente está ingerindo.

Exija mais informações e maior clareza nos rótulos e embalagens: além de fazer a leitura crítica de um rótulo, você pode participar de discussões sobre o tema junto a instituições ou à própria Anvisa. Assim, contribui com o avanço de políticas públicas. Conheça o Põe no Rótulo, iniciativa que resultou na mudança de legislação da rotulagem no Brasil, com a obrigatoriedade do destaque dos principais alergênicos nas embalagens dos alimentos industrializados; e a Por uma rotulagem adequada já, campanha do Idec que inclui uma petição a fim de pressionar a Anvisa para a revisão e a adequação do modelo atual de rotulagem. Ela segue ativa mesmo após o modelo recentemente escolhido pela agência e ainda quer angariar apoio para solicitar uma nova revisão. A iniciativa fomenta o debate acerca da rotulagem e do que poderia ser adequado para beneficiar o consumidor.